Tarde de debates sobre dor crônica e populações vulneráveis encerra segundo dia do SIMAP com trocas potentes
- Thaynara Inacia
- há 3 dias
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Profissionais abordaram o manejo interdisciplinar da dor e o cuidado às populações privadas de liberdade e em situação de rua
A tarde do segundo dia do SIMAP 2025 foi marcada por reflexões profundas sobre dor crônica e o cuidado em contextos de vulnerabilidade social. Os debates destacaram o papel ético, humano e interdisciplinar das equipes da Atenção Primária à Saúde (APS) no manejo da dor e na promoção do cuidado integral a populações privadas de liberdade e em situação de rua.
O painel “Dor crônica na Atenção Primária” reuniu profissionais de diferentes áreas para discutir estratégias seguras e integradas no enfrentamento da dor. A psicóloga Teresa Martins abriu o debate com a palestra “A dor que fala, APS que escuta: a descoberta guiada como um encontro transformador”, ressaltando a importância da escuta ativa e empática no cuidado.
Em sua fala, Teresa destacou que a dor é sempre uma experiência pessoal, influenciada por fatores biológicos, psicológicos e sociais, e que cada pessoa constrói sua compreensão sobre o que é dor a partir das próprias vivências. Ela reforçou que o relato de quem sente dor deve ser sempre respeitado, pois, embora muitas vezes cumpra um papel adaptativo, a dor também pode afetar profundamente o bem-estar físico, emocional e social.
Segundo a psicóloga, “a expressão da dor vai muito além das palavras; a incapacidade de comunicação não significa ausência de sofrimento”. Para Teresa, “a dor é uma linguagem do corpo e da alma, e quando a equipe da APS se dispõe a escutar, ela não apenas trata sintomas, mas transforma realidades”.
Em seguida, a médica Ana Cecília apresentou a palestra “Dor crônica na Atenção Primária à Saúde”, compartilhando estratégias para o manejo clínico e medicamentoso em diferentes contextos, reforçando a importância do trabalho conjunto entre os profissionais da rede.
O fisioterapeuta Pedro Alves completou o painel com a palestra “Abordagem e manejo da dor crônica: o papel do fisioterapeuta”, destacando o movimento e a funcionalidade como aliados no processo terapêutico. “Tive o privilégio de participar do primeiro SIMAP ao lado de duas profissionais extremamente capacitadas — uma médica e uma psicóloga — debatendo sobre o manejo e a abordagem de pacientes com dor crônica. Também pude acompanhar outras palestras inspiradoras, como as que abordaram a vulnerabilidade de pessoas em situação de rua e em privação de liberdade. Foi um grande prazer fazer parte desse momento”, relatou.
Encerrando as atividades da tarde, o painel “População vulnerabilizada: saúde como direito de cidadania aos privados de liberdade e em situação de rua” trouxe à tona o compromisso da APS com a equidade e o cuidado humanizado. A enfermeira Amasília Veiga abordou o tema “Barreiras, acesso e direito à integralidade do cuidado”, reforçando que “a Atenção Primária é o alicerce do cuidado também dentro dos muros”, destacando o impacto do cuidado básico na qualidade de vida da população privada de liberdade.
O médico Vinícius Yran e a psicóloga Maria Eduarda Peixoto, profissionais que atuam na iniciativa “consultório na rua” — que hoje é administrada pela Missão Sal da Terra — e que leva cuidados básicos para a população vulnerabilizada, compartilharam suas experiências no atendimento a pessoas em situação de rua. Em sua fala, Maria Eduarda destacou que “a saúde não deve ser um favor ou benefício, mas um direito de cidadania, cuja efetivação depende de políticas públicas”. Para ela, o papel das equipes multiprofissionais é garantir esse direito por meio de um cuidado itinerante, integral e humanizado, com presença ativa no território, abordagem de redução de danos e atenção continuada.
Na sequência, o fisioterapeuta Cláudio de Sousa contribuiu com a palestra “Estratégias de cuidados em saúde para populações vulneráveis”, ampliando o debate sobre práticas de equidade no SUS. Mestre em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador, Cláudio é especialista em Ativação de Processos de Mudança na Formação de Profissionais de Saúde pela FIOCRUZ e em Fisioterapia Desportiva pela PUC Minas. Atuando também como professor universitário, ele compartilhou experiências e reflexões sobre a importância da atuação multiprofissional e da formação crítica e humanizada dos profissionais de saúde para enfrentar os desafios cotidianos nos territórios.

As reflexões da tarde reforçaram a essência do trabalho em saúde: cuidar é reconhecer o outro em sua história, vulnerabilidade e potência. O SIMAP reafirma o compromisso da Missão Sal da Terra e dos profissionais da Atenção Primária com uma saúde pública mais humana, inclusiva e transformadora.
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